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Título: O vazio e a beleza - De Van Gogh a Rilke: Como o Ocidente encontrou o Japão

Autor: Giorgio Sica

Editora Unicamp | Edição: 1ª

Ano: 2017

Páginas: 280

Um mergulho na literatura japonesa e

                                           sua relação com o Ocidente

Livro italiano mostra como o Japão

                                      influenciou a Europa e os Estados Unidos

 

Por Claudia Ideguchi

 

No livro O vazio e a beleza - De Van Gogh a Rilke: Como o Ocidente encontrou o Japão, o italiano Giorgio Sica encara a complexa tarefa de apresentar as influências nipônicas no desenvolvimento das artes no Ocidente, falando mais profundamente sobre as mudanças na literatura da Europa e Estados Unidos no tocante ao contato com haikais e a filosofia zen budista.

 

Ainda que o título faça menção ao pintor Vincent Van Gogh, as artes plásticas e demais áreas correlatas não tem tanto aprofundamento. O foco principal da pesquisa de Sica é realmente a literatura e para tanto ele faz uma senhora introdução de 64 páginas: traz com muita propriedade o contexto histórico japonês e como se deram os processos de criação da literatura e poesia no país, apresentando ainda elementos estéticos como mono no aware e wabi-sabi, indispensáveis para compreender a cultura nipônica. 

Após a extensa introdução, o autor divide o livro em duas partes distintas: o japonismo na Europa e nos Estados Unidos e a poesia japonesa e a renovação da poesia ocidental. A primeira, com quatro capítulos, é a menor de toda a obra: conta com 42 páginas e é onde o Van Gogh do título aparece. Trabalhando principalmente a influência que Katsushika Hokusai teve nos artistas plásticos da época, toda a informação a respeito desse tema específico está contida nessa parte e apesar de fazer um apanhado competente de informações e contexto da época, os interessados em aprofundar no tema das artes plásticas podem sentir falta de mais detalhamento. O autor, no entanto, fornece uma série de referências bibliográficas sobre o tema, então caso o leitor sinta que há mais material a ser trabalhado pode começar pelas leituras indicadas por Sica nas notas de rodapé.

 

A segunda parte, com 113 páginas, mostra realmente a extensão da pesquisa do autor. Extremamente detalhado e com muitos artigos abordando diferentes temas literários e autores da Europa e Estados Unidos, esse momento do livro exige do leitor atenção extra aos detalhes e informações expostas; para quem não está acostumado com a linguagem japonesa, sua fonética e seus significados, um novo mundo é apresentado, no qual o sentido e o propósito de um poema não decai somente nas palavras utilizadas, mas também no ideograma escolhido para representar aquilo que se tenciona transmitir.

Isto posto, vale frisar que o livro é muito mais acadêmico do que seu título sugere; é necessário que o leitor se dedique a compreender os vários termos e aspectos estéticos e históricos da cultura japonesa antes de efetivamente começar a consumir os artigos. Talvez não seja o livro mais indicado para presentear uma pessoa que está entrando em contato pela primeira vez com esse universo; apesar do caráter contextualizador e introdutório, a linguagem pode ser um tanto desafiadora para quem não está acostumado com o tema.

 

O que nos leva a um ponto importante em relação à edição brasileira: por escolha das tradutoras Letizia Zini e Valéria Vicentini, toda a tradução seguiu a estrutura apresentada no original, sem grandes interferências das mesmas. Há uma série de trechos em outras línguas: muitos trechos em inglês, alguns em francês, espanhol e japonês; o autor, no livro escrito em italiano, decidiu não traduzir trechos inteiros em outras línguas vez ou outra, algo que as tradutoras aqui no Brasil optaram por manter. Há tradução em português nas notas de rodapé somente quando o próprio autor o fez, então se prepara para ir sozinho atrás de tradução caso queira entender completamente o que Sica quer dizer em determinado capítulo.

 

Em resumo, Vazio e Beleza não tem tom de entretenimento, inclusive há um forte viés acadêmico presenciado pela maneira estética e narrativa de apresentar o texto. Traz um jogo de referências bom para consulta, mas superficial para acabar em si mesmo em alguns momentos; é claramente um livro para pesquisadores que se desenrola em notas de rodapé com referências bibliográficas bastante ricas. Recomendado para quem pretende ter uma visão mais ampla da literatura japonesa e sua influência no Ocidente.

 

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